Luanda, cidade sujeita a uma enorme pressão demográfica e que se encontra num processo de transformação intenso. O rápido e desordenado crescimento do perímetro da cidade deu origem a um modelo de bairro próprio da cultura urbana de Luanda, o musseque. Desta forma, o novo bairro é concebido segundo algumas premissas; condições culturais, económicas e sociais do lugar.
Os módulos habitacionais são implantados numa área plana e agregados entre si. Esta repetição gera espaços privados, semi-privados e públicos, criando complexidade e surpresa. Cada módulo é inserido num lote de 25mx10m, permitindo o desenho de espaço urbano (ruas, largos, praças).
A casa, constrói-se a partir de um processo evolutivo, em auto-construção, de baixo custo e capaz de acompanhar a velocidade de transformação do tecido social de Luanda. Este protótipo é desenhado para famílias em situação de grande carência, constituídas por 7-9 pessoas, entre pais, filhos e avós.
O limite do lote é definido por um muro contínuo. Este, prevê-se o primeiro gesto da construção da casa.
Definem-se dois pátios. O primeiro, mais pequeno que o segundo, estabelece uma relação directa com a rua e antecede a entrada na casa. O segundo pátio garante privacidade aos quartos e a sua distribuição é feita através de uma galeria coberta. Um tanque e uma cisterna permitem o armazenamento de água e a existência de uma horta para uso doméstico.
A cobertura, com várias pendentes, possibilita a recolha de águas pluviais em períodos de maior escassez e define espacialmente cada compartimento da casa: sala, cozinha, 4 ou 5 quartos, duas instalações sanitárias e um espaço exterior coberto. Os moradores poderão apropiar-se da casa de forma espontânea e viver livremente os pátios.
Estas são as casas. E se vamos morrer nós mesmos,
espantamo-nos um pouco, e muito, com tais arquitectos
que não viram as torrentes infindáveis
das rosas, ou as águas permanentes,
ou o sinal de eternidade espalhado nos corações
rápidos.
– Que fizeram estes arquitectos destas casas, eles que vagabundearam
pelos muitos sentidos dos meses,
dizendo: aqui fica uma casa, aqui outra, aqui outra,
para que se faça uma ordem, uma duração,
uma beleza contra a força divina?
Herberto Hélder, A colher na Boca, Lisboa, Ática, 1961, pp.13
Concurso Internacional de Arquitectura A House in Luanda: Patio and Pavilion. Trienal de Arquitectura de Lisboa 2010. Projecto seleccionado para exposição. Lisboa, Portugal.
Em colaboração com Filipe Saraiva Arquitectos, João de Deus Ferreira e Pedro Martins.